“A infraestrutura que temos na América Latina ainda é precária”

12/06/2013

“A infraestrutura que temos na América Latina ainda é precária”

A Internexa, empresa que hospedou em Medellín a edição número 19 do evento do LACNIC, possui uma rede com mais de 22.000 km de fibra ótica que percorre a América Latina sob um modelo de “rede aberta”. Segundo Genaro García, gerente geral da companhia, essa  rede é “a espinha dorsal de um sistema de comunicações” em uma escala continental.

por Pablo Izmirlian

Nascida como uma unidade de negócios de telecomunicações da colombiana ISA, em 2000 a Internexa tornou-se uma empresa independente sob a tutela do ISA, mas como uma entidade legal diferente. Naquele tempo, a Colômbia iniciava um processo de abertura à concorrência em transmissões de longa distância e foi então que a Internexa começou a colocar a fibra ótica. “Começamos com uma rede de 1000 quilômetros, hoje temos na Colômbia quase 7000 quilômetros”, diz Genaro García, gerente geral da Internexa desde sua formação. Genaro é engenheiro eletrônico pela Universidade Católica de Valparaíso, PhD pela Universidade Politécnica de Madri e tem mais de 30 anos de carreira profissional em telecomunicações.

A expansão internacional da rede foi realizada primeiro na Venezuela e Equador, e depois no Peru, sempre sob o mesmo modelo de negócio: “uma rede aberta para todo agente do setor das telecomunicações que precisasse de transporte”, segundo García. “A Internexa é como uma grande estrada, como a espinha dorsal de um sistema de comunicações, um trem expresso”.

“Neste momento na América Latina conectamos 82 cidades, todas de mais de 300.000, 400.000 habitantes”. Conversou com o Boletim do LACNIC durante o evento LACNIC 19 sobre como manter essa infraestrutura e os desafios para seu crescimento, entre outros temas.

Que estimativa de vida útil tem a rede que está montada hoje, em função do crescimento da demanda por largura de banda, especialmente pelo consumo cada vez maior de vídeo on-line?

 

Isso está desabando as redes móveis no mundo todo. A fibra ótica é um recurso escasso, não apenas pela quantidade de fibra ótica a ser colocada, mas pelo meio para suportá-la. A fibra ótica  deve ter um meio muito bom de suporte, por isso nós usamos a sinergia com nossa casa matriz, a infraestrutura elétrica, porque, se não deve ser enterrada, etc, e então torna-se muito vulnerável. É escassa nesse sentido, e muito cara. Esses são os contras.  As vantagens são que, em primeiro lugar, quando você investe em uma fibra óptica, o custo de colocar dez pares frente a 25 pares é marginal. A outra coisa é que a cada ano a eletrônica de transmissão permite a re-potenciação da capacidade de transmissão. Há dois anos, 2.5 gigas de transmissão era o último em um enlace de alta capacidade. Hoje são de 100, e já os fabricantes estão falando de sistemas de 200, de 300 gigas. Então, vamos dizer que é preciso fazer investimentos, procurar economias de escala e, dessa forma, a crescente demanda de largura de banda poderá ser absorvida e, do ponto de vista financeiro, a operação poderá ser sustentável.

Então você estima que a rede atual tem pela frente várias décadas de vida útil?

A vida útil de uma fibra ótica é de 20, 25 anos, mas o que realmente determina a vida útil é a qualidade da infraestrutura sobre a que está montada. Por que? Porque se estiver montada sobre uma infraestrutura muito fraca sofre muitos cortes, e embora esses cortes possam ser concertados, cada corte vai deteriorando a rede. Há fibras óticas no mundo que tem 30 anos, que 10 anos atrás se pensava que tinham que ser trocadas, mas puderam ser re-potenciadas pela eletrônica.

Com uma geografia tão complexa como a da Colômbia, acredita que vai ser mais fácil a instalação de redes em outras regiões da América Latina? É esse um diferencial da Internexa?

 

É um diferencial do ponto de vista do aprendizado que temos tido. Na Colômbia temos cinco anéis porque a geografia assim o exige. Isso forneceu experiência para fazê-lo fora da Colômbia e para adquirir infraestrutura existente no Chile, Argentina e Brasil. Isso é o produto da experiência, mas o mais importante é o modelo de negócio. Nós não chegamos até o usuário final, nós somos maioristas, vendemos somente aos operadores. Isso faz com que podamos gerar essa economia de escala mencionada acima, e ao mesmo tempo ser úteis do ponto de vista das coisas que estamos vendo neste congresso, que possibilitam  que operadores sem capacidade para construir sua própria rede possam acessar nas mesmas condições uma rede que forneça o mesmo serviço que forneceriam a si mesmos. A questão da geografia, mesmo que na Colômbia seja complexa, em outras partes também é. No Peru, por exemplo, a região do deserto torna a resolução bastante complexa. Em geral, a infraestrutura que temos na América Latina é ainda precária, então poder desenvolver um modelo de negócios que compartilhe essa infraestrutura com muitos atores é muito positivo para a concorrência e para o desenvolvimento dessa indústria.

[QUADRO 1]

Internexa: uma rede de 22.000 km que continua crescendo

“É como tricotar, do ponto de vista de fazer as interconexões das fibras óticas e dotar essas fibras óticas de equipamentos de transmissão que nos permitam fazer o que fazemos hoje”, diz Genaro García. “A rede de 22.000 km vai de Caracas por todo o Pacífico, passa pela Colômbia, Equador, Peru, chega até o Chile, atravessa Buenos Aires e sobe pela costa atlântica até o Rio no Brasil. Esses são 22.000 km em operação. Vem ai outros 1.800 km que neste momento estão sendo colocados em serviço na América Central, onde temos uma companhia da que somos parte minoritária, onde participam os seis países centro-americanos mais outros sócios como a companhia de transmissão de eletricidade do México, ISA e Endesa da Espanha. Daqui a um ano vamos ter uma rede de 24, 25.000 quilômetros”.

[QUADRO 2]

“Comprar a Internet na Florida”

“Na América Latina, durante muitos anos, temos comprado a Internet na Florida. O que significa isso? Que cada um dos países e cada uma das empresas dentro dos países adquirem uma conexão internacional para ir ao NAP das Américas, ou aos centros dos grandes provedores da Internet no mundo para ter conectividade. Quando eu digo que estamos tentando fazer a verdadeira Internet da América Latina é através dessa infraestrutura que acabei de descrever. Interconectando países, interconectando os NAP e colocando sobre a infraestrutura espelhos dos provedores de conteúdos, estamos gerando uma Internet bem diferente”.

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