“Estamos criando uma federação para os pontos de troca”

12/06/2013

“Estamos criando uma federação para os pontos de troca”

Bijal Sanghani dirige a Secretaria Geral da European Internet Exchange Association (Euro-IX), posição que lhe permite estar em contato com mais de 60 pontos de troca de tráfego e trabalhar, conjuntamente com outras associações regionais de pontos de tráfego, no andamento da IX-F, uma federação global. Presente no evento LACNIC 19 em Medellín, onde foi nomeada Queen of the tweet, falou com o Boletim do LACNIC sobre o trabalho da Euro-IX e também de sua perspectiva sobre a participação da mulher na indústria das TIC.

por Pablo Izmirlian

Uma Internet Exchange ou ponto de troca de tráfego da Internet (IXP) é o local onde diferentes organizações e empresas possuidoras de número AS [Autonomous System] podem se reunir para trocar tráfego da Internet. “O ponto de troca facilita a troca de tráfego da Internet através de sua rede”, diz Bijal Sanghani, Diretora da Secretaria Geral da European Internet Exchange Association (Euro-IX).

Como era resolvido isso antes que os IXP estivessem organizados? “Antes o tráfego de IP era comprado, então as pessoas iam a seu incumbente ou eram feitas conexões privadas entre ISP”. “Um ponto de troca da Internet facilita a interconexão em um só lugar, sem ter que pagar uma taxa, porque você já está pagando uma adesão à Internet Exchange”, explica. “Tudo está baseado em acordos”, acrescenta, e para mais informações sugere assistir o vídeo realizado pela Euro-IX, The Internet Revealed: A film about IXPs (“A Internet revelada: um filme sobre IXP”) [http://youtu.be/a5837LcDHfE ].

Formada em matemática, Sanghani iniciou sua carreira profissional em Demon Internet, na época, um dos maiores provedores de Internet da Europa. Depois trabalhou para empresas como Level 3 e Flag Telecom (atualmente Reliance Globalcom). Foi em Flagonde aprendeu sobre peering e tudo o relacionado com a Internet Exchanges. Desde que assumiu como Diretora da Secretaria Geral da Euro-IX, em outubro de 2011, passou para “o outro lado”. “Eu acho que ajuda ter tido a experiência de ser um membro, porque eu posso ver as coisas de outro ponto de vista”, diz Sanghani.

Como Diretora da Secretaria Geral da Euro-IX, quais são suas principais tarefas?

Eu sou o único membro da equipe em tempo integral pelo que faço um pouco de tudo, orçamento, planejamento, fóruns… bem, de tudo (risos). Temos duas reuniões por ano, para a qual convidamos os nossos membros, e na última que organizamos em Hamburgo, participaram 44 pontos de troca de tráfego, a maior concorrência até hoje nos fóruns da Euro-IX. Além dos fóruns mantemos o banco de dados dos IXP, temos uma lista de correio, grupo de trabalho e forca de tarefas. Meu trabalho é facilitar tudo isso e garantir que tudo funcione corretamente. Também trabalho no desenvolvimento de novos IXP e o Twinning Program [programa de geminação], que tem sido realmente muito popular, principalmente na África e na Ásia. Ainda não temos nenhum caso de geminação na América Latina, mas esperamos que isso aconteça aqui também.

De todos os projetos nos que está trabalhando, qual seria o mais importante?

Um dos maiores projetos é a federação, a IX-F. O LAC-IX está começando, está APIX [Asia-Pacific Internet Exchange], está Af-IX [African Internet Exchange Point Association] e Euro-IX, e juntos estamos construindo uma federação para os pontos de troca da Internet. Hoje temos dentro da federação à Euro-IX, APIX e LAC-IX, assinamos o memorando de entendimento em novembro do ano passado. A Associação Africana de Pontos de Troca começou a funcionar em agosto de 2012, e eles também vão se juntar à federação, pelo que as quatro organizações vão estar juntas, levando em conta padrões globais, colaborando com o desenvolvimento de trocas da Internet [IX] no mundo todo e coisas assim. Parte de federação é a construção de um banco de dados global, fundamental para poder elaborar relatórios e ter mais informações sobre os IX.

Os eventos do LACNIC têm um espaço dedicado às mulheres e às TIC. Qual é a sua opinião sobre esse assunto?

Diria que aqui há bastante participação das mulheres. Eu sou a encarregada de organizar almoços e jantares de mulheres em outras reuniões nas que participo, como a reunião do RIPE [Registro da Internet Regional para a Europa] a ser realizada na semana próxima em Dublin. Provavelmente vão participar umas 10, 11, 12 mulheres no máximo, enquanto que no almoço de mulheres e TIC que houve aqui… talvez havia mais de 30 mulheres na sala… são muitas. A outra coisa que acontece é que antes havia muitas mulheres que desempenhavam um papel técnico, mas agora não. Eu costumava me dedicar à parte técnica, mas agora meu trabalho mudou… muitas mulheres que desempenhavam papéis técnicos agora realizam tarefas que se aproximam mais a área comercial ou administrativa, o que é uma pena… mas imagino que estamos criando um lugar para as mais jovens que estão apenas começando.

O que é o programa Net-Grrl que você está promovendo? Tem alguma relação com a Euro-IX?

Não, é totalmente independente da Euro-IX. Na verdade, foi uma garota chamada Abha Ahuja que iniciou o Net-Grrls. Ela estava muito dedicada à área técnica, estava envolvida com o IETF e tinha escrito RFC, era muito, mas muito inteligente. Lamentavelmente morreu muito jovem. O programa Net-Grrls foi uma ideia dela. Uma grande amiga dela, Cathy Aronson, que faz parte do conselho assessor de ARIN, decidiu continuar Net-Grrls em sua memória. Também há um fundo para mulheres dedicado a ela [o Abha Ahuja Memorial Scholarship Fund da Faculdade de Engenheira da Universidade de Michigan]. Eu ajudo na promoção. Há cerca de 10 anos que organizo os almoços, principalmente na Europa. Temos uma página de Facebook: [https://www.facebook.com/groups/netgrrls/ ] e uma lista de correio para mulheres, e isso é a nível global… Acredito que é maravilhoso, não há suficientes mulheres trabalhando em redes e me faz muito feliz apoiar uma organização que promove a participação das mulheres.

Por que não há mulheres nessas profissões?

Não sei…

Quando você estudava matemática, era a única mulher na aula?

Sim (risos). Éramos duas meninas… não sei… na verdade é um papo que tenho sempre com outras mulheres… as pessoas dizem “nas reuniões quem sabe, deveríamos falar com as mulheres e ver por que não há mais mulheres nessas profissões”, mas o problema é que as mulheres nestas reuniões já estão ali… Não sei se a gente não deveria dar um passo para baixo, visitar escolas e universidades e dizer para os estudantes: “olhem, há uma grande indústria lá fora, está a Internet, não apenas para os homens, as mulheres também podem se envolver e ter muito sucesso também”.

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